textos

Não é por mal, é por medo

17:30

Não é por mal mas sei o mal que me faz.
Sentada na calçada da rua, onde as pedras frias me fazem sentir alguma coisa, perco-me em pensamentos.
Ouço as batidas frenéticas do coração que parecem quer escapar-se por entre os tecidos finos da roupa. Ouço o coração bater mas ainda mais alto o medo a vencer.
Não é ao acaso que por acaso nem todos conseguem chegar a mim. A porta do meu coração é feita de vidro mas as muralhas em torno dele são feitas de betão.
Não é por mal que eu demore um pouco mais de tempo a dar um pouco mais de mim. Não é por mal que muitas vezes evito caminhos de loucuras ou fecho-me para aventuras.
Coração feito de papelão quando rasgado e mal tratado, palpita descontrolado ao chegar alguém à sua vida.
Obrigação do inconsciente de travar qualquer entrada que não seja para ficar.
Tenho medo de despedidas, de abandonos, de distâncias e tenho medo sobretudo da saudade.
Nas veias que me percorrem o corpo, corre a saudade a uma velocidade veloz, como se depressa eu tivesse que a sentir para saber que lenta seria a demora e a espera de voltar a ter.
Tenho medo da instabilidade, de saber que me movo em areias movediças. Tenho medo de correr atrás de quem um dia já partiu de malas aviadas e de ideias feitas. Tenho medo de um dia eu olhar e já nada cá estar.
Não tenho medo do amor porque ele é o melhor amigo do coração, o que preenche o vazio, aquece a alma, destrói as muralhas construídas. Tenho medo, por ele ser também o maior inimigo do coração, aquele que um dia quando acaba, transforma a luz em escuridão.
A verdade é que tenho medo. Tenho medo de me entregar por inteiro e receber partes. Todos incompletos não me fazem sentir de todo completa.
Mas tenho ainda mais medo de um dia me vir a arrepender.
Se um dia me vires a dizer não ao momento, dá-me um sim como um estalo para a realidade.
Se algum dia quiser escapar uma batida, obriga-me a tocar. Se algum dia quiser deixar a dança da vida, toca-me a música que me faz não querer parar.
Se algum dia me vires fugir, agarra-me com força e não me soltes.

Não é por mal, é por medo.

rapariga a escrever no caderno

textos

Estás a um passo!

18:30

Sonhos…
Eu sei que os tenho algures guardados dentro de mim. Manifestam-se em pequenos fragmentos de sonhos que me enchem por dentro. Enchem-me de esperança de querer algo maior.

Sonhos são histórias com vírgulas, à espera de chegarmos aos pontos finais. Virgulas tentadoras que nos fazem muitas vezes ficar presas a elas, perdidos em labirintos sem saída.
Vemos metades onde está o todo e achamos o todo em metades. Vivemos por meias experiências, momentos e interpretações.
Agrada-nos a forma das meias palavras ditas e das meias ações. Ficamos em estado de hipnose pelo meio, por não ser nem muito nem pouco. É a nossa zona de conforto.
A vida decorre a 8 ou a 80, ela não dá espaço para meios silêncios ou meios tormentos. É ou não é. Sim ou não. É preciso saber desligar desse limbo e sair dessa fina linha a que chamamos confortável porque os sonhos não se encontram revestidos em mar de rosas ou escondidos em casa. Os sonhos começam quando a nossa zona de conforto acaba, quando permitimos sair dos meios. Quando abandonamos os meios para chegar aos fins.
E… quando o desassossego da noite chega e o turbilhão de pensamentos nos invade, abraçamos o luar que nos traz e encaixa ideias e nos faz esquecer que o tempo existe. Escrevemos nas estrelas o que vai no coração e pintamos a imaginação para dar asas à sua canção.
Somos pequenos como grãos de areia e pontos invisíveis na imensidão do universo mas, ainda assim, pertencemos a algum lugar. Apesar da nossa pequenez, somos tão poderosos por não desistir e persistir.
Que a loucura nos puxe os cabelos e nos faça perder o chão! Que os pés que nos sustentam nos levem para longe e tracem caminhos de possibilidades e oportunidades. Que os olhos que brilham como diamantes em bruto gravem os momentos e que na ponta da língua tragamos os conhecimentos adquiridos.
Se a loucura for o sonho, então que sejamos irracionais para não perder este compasso da vida.
Mochila às costas, bagagem pronta. Está na hora de seguirmos o que mais queremos e o que mais desejamos.


Acredita! Estás a um passo.

rapariga de costas a ver o rio

textos

Não estás sozinho

17:30

Sinto-te longe.
Sei o que estás a passar, e palavras não chegam para melhorar. Olho para ti, por detrás deste grande vidro que nos separa. Olho para ti e leio-te nos olhares, nas atitudes. Leio-te em cheio e com tiros certeiros.
Sei o que é sentirmo-nos perdidos, sem saber para onde ir, como ir, ou com quem ir. O mundo é grande para tão pequenos corpos.
Sei o que é sentir a solidão que nos arrebata e que bate constantemente à porta e sei o quão tentador é deixá-la entrar. Sei o quanto doloroso pode ser o sentimento de nada saber.
A vida tem os seus silêncios mas os teus são assustadores.
A noite é longa e apesar de ter um ar pacífico mal pode adivinhar a guerra que não cabe dentro de ti. Mal ela imagina o frenesim que a mente emite. Ela não faz nada. Apenas ouve as tuas lágrimas como a chuva que derrama lá fora e os teus soluços como uivos do vento gelado.
Ela não te diz nada mas dá-te o tempo para o fazeres. São noites compridas que escondem as verdades, as preocupações e os pensamentos sombrios que acorrentam a alma cansada.
Sei o que é sentir cansaço acumulado. Cansaço dos dias em si. De contar os dias passar e não passar por eles.
Sei o que é o vazio que sentes. O que é acharmos a incompreensão.
Sei que parece que nada pode resolver o mal que sentimos. Que o rumo é tão desvanecido e que o futuro é um borrão.
Sei o que é a necessidade de falar mas a tentação de calar ser maior. O silêncio é o que nos faz cair.
Sei o que é ver a esperança a morrer e a perder a intensidade. Sei disso e muito mais.
É sentimento que destrói a mente jovem, é um coração que palpita preocupado e apertado e é um sufoco que se estende por corpo inteiro.
Mas também sei que nada dura para sempre. Que o mundo que tens nas mãos, não o tens de carregar às costas. Sei que se partilharmos o peso, a dor aliviará.
Não te afastes, não te percas, não fujas de mim.
Sei que não estás sozinho.

Vai ficar tudo bem. Prometo.

casal a ver a vista

textos

Saudade

18:00

Saudade que entoa e que soa. Soa em peso e sem receio.
Sentimento doloroso que deixa um vazio em nós. Sentimento isolado que traz solidão.
A inveja que sempre tive do tempo, por ter todo o tempo do mundo. Hoje peço que me dê um pouco mais de tempo para poder apaziguar a ausência.
Não sei se estou presa a um passado cheio de memórias ou se me agarro a um futuro de incertezas. Sei que vivo o presente com saudade e com ela sempre presente.
Chega como se fosse dona do mundo e assola-nos com o seu espírito de impacto. Não vem de prepósito mas com um propósito.
Lacunas soltas à espera de serem preenchidas.
Saudade que se arrasta e alastra como um sopro gelado permanente. Que deixa umvazio em tão pequena alma e em tão fraco coração.
Sentimentos divergentes em que não sei se guardo na mente os momentos vividos ou se esqueço para um dia a dor passar. Sentimentos que colidem trazendo conflitos internos.
A mente não se sabe conformar e muito menos calar. Peças… umas soltas, outras roubadas.
Como um puzzle pode ficar completo quando há peripécias mal contadas e histórias entregues por metade?
Pretérito perfeito que voltes inteiro.
Preciso que me dispas a sede que sinto e que me vistas com os teus contornos perfeitos. Preciso que tragas quem um dia me levaste. Preciso da borracha que apaga tão hipérbole saudade. Vejo-te em sonhos, em mundos poéticos. Revejo memórias em tempos certos. Contudo a verdade atinge-me com murros para perceber que as ilusões criadas nunca voltarão e o que um dia eu sonhei foi tudo em vão.
Sinto saudades de quem um dia partiu sem nada dizer e de quem um dia em sussurros me deu despedidas.
Sinto a esperança de voltar a viver, o momento que outrora esteve em vida.
Sinto saudades e apenas isso.


Ainda espero e desespero. 

saudade






textos

Expetativas

21:14

Como se desliga a mente? Como se calam as vozes dos pensamentos? Como se para a correria dos sentimentos e abranda-se o tempo?
É droga para o meu ser. Vicio contido que alimenta a alma perdida.
O chão que os pés pisam afunda com as ilusões criadas. Expetativas fundadas em devaneios tão reais mas tão falsos.
É energia que vibra e luz que nos faz avançar. É música para tão pequeno coração por lhe dar a mínima esperança.
Perco-me em devaneios mentais, em filmes só meus. Perco-me em labirintos mortais. Sei que não há saída, uma vez que entro. Sei que são apenas expectativas mas ainda assim, tento.
São desejos perdidos à espera de serem alimentados.
Esperanças de asas que voam e sobrevoam o momento.
O pior vem depois. O pior vem quando no cortam as asas e a queda é longa e profunda. Quando os sonhos se desvanecem e os vemos partir sem conseguir segurá-los. Quando o efeito mágico e ansioso passa e deixa um rasto de frustração, irritação e raiva.
A raiva que nos consome e que nos faz querer destruir tudo o que nos rodeia.
O pior… é quando não sabemos se a vontade de partir algo é para se igualar ou para ocultar o coração ferido e partido.
Expetativas são o grito dado num momento e o grito abafado noutro. São a libertação de um peso e o sufoco doloroso noutro.
Expetativas são espadas que nos espetam. São rosas perfeitas com espinhos à espreita.
Ainda assim, vejo-me tentada neste pecado, onde caio em erro toda a vez que a mente reage com o coração e fecha-se para a razão.
Quando irei aprender? Talvez um dia, em expetativa.

flor- expetativas



entrelinhas

Entre Linhas

21:00

Não sei se o que me fascina é o olhar que as pessoas soltam quando falam de algo que verdadeiramente amam, ou se fico embebida pelas palavras entusiasmantes que saem das suas mentes.
Mistérios ocultos em simples palavras. Existe sempre algo mais. O mais que não foi falado mas pensado. O mais que não se mostrou mas que ali estava.
Chamam-se as entre linhas da vida, aos significados escondidos por entre palavras ditas. Espaços em branco que não esperam ser preenchidos mas sim compreendidos. Eles já lã estão, só falta dar pela sua presença.
São os gestos, os olhares, as atitudes, os tiques. São tudo aquilo que está à vista de qualquer um mas não há vista de todos.
É ténue linha entre o que se diz e o que se disse realmente. É o limite entre a verdade e meia verdade.
Linhas soltas que se encontram perdidas e camufladas. Linhas de liberdade que estão presas em paradoxos imaginários por não se mostrarem.
Entre linhas é a nossa parte. É a parte de nós que não mostramos, não contamos e nunca ouvimos. É a parte que não cabe nas palavras mas sim nos pensamentos.


Entre linhas é linha que separa a razão do coração.

Eu

Leitores

Blogs de Portugal

Número total de visualizações de páginas