amor

Ser Bonito

18:30

Corpo em que habito, corpo em que diariamente convivo. Sou eu, ou pelo menos acho que sou. Não sou feita de papel, mas procuro em mim palavras que façam sentido, que me digam de que matéria de estudo sou feita. Não sou interrogação ou exclamação, mas dentro de mim há um mar de questões certas e certezas questionáveis. Beijo a mente que me desperta todos os dias e em sussurros ligeiros vou dizendo-lhe que tudo está bem.
Uns dias acordo e corro em linha reta e outros tenho-me de pernas viradas para o ar. Uns dias sei para onde vou e outros fico-me só por existir e amar.
Em sufocos apertados, cá vou colhendo ilusões de que sou feita de tons de cinza. Na realidade trespassa-me e a todos… um espetro de luz única que nos torna únicos aos olhos de cada um.
Rasgo o coração em mil pedaços para entregar-me a conhecer as entranhas que me revestem e que vão dentro de mim. De ponta a ponta examinando, cada canto meu e tento achar as pontas soltas que contam um segredo seu. Percorro em olhares silenciosos os fragmentos que me constroem. Não sou um tetris onde as peças encaixam perfeitamente, mas sim um puzzle com peças perdidas. Observo com um detalhe curioso e cuidadoso o fim do cabelo rebelde que teima em querer dançar uma valsa com os outros cabelos. Levo as mãos ao rosto e sinto as marcas que carregam em si histórias vividas, contorno os lábios que soltam sorrisos contagiosos e que tem como fim terminar num sorriso de outro alguém.
As curvas e contracurvas conto-as em marés, fazem a minha forma e levo em conta a sua intensidade como ondas leves.
Olho o meu reflexo com a mente nua, com o olhar perdido de quem abraça a insegurança, diariamente, e de quem luta com a aceitação de si mesma.
Ser bonito. Não sei o que é isso, talvez questão de perspetiva, miragem de outro alguém. Mas tenho aprendido que ser bonito é simplesmente ser. Prefiro perder-me apaixonadamente por um coração simpático do que por um rosto sorridente. Sou mais de sentir intensamente almas e mentes do que corpos inertes e vazios.
Ser bonito é sentarmo-nos, connosco mesmos, aceitarmo-nos e julgarmo-nos. É começar e acabar o dia sendo a melhor versão de nós mesmos.
Na procura incansável de palavras que me descrevam, existe uma que nos descreve na sua singularidade: Humano.


Ser bonito é ser humano. É ser real.



Sonhos

19:00

Hoje acordei primeiro que o sol, que o toque ensurdecedor do despertador. Hoje acordei primeiro que o tempo e fui divagar em sonhos.
No coração louco que transborda amor e alegria, corre nas veias sonhos ainda em bruto. Não tem data de aparecimento, mas surgem de repente e sentimo-los a acariciar-nos os dedos, quase como se o pudéssemos agarrar.
Sonhos levo-os às cavalitas e empilham-se em montanhas. Não pesam nas costas, mas fazem sentir-se dentro do coração.
Prego sonhos à parede de onde esperam ser libertados das suas molduras.
Sonhos são mesmo assim, não têm forma e muito menos cor, no entanto às vezes sinto-lhes o sabor. Dão o ânimo que preciso e enchem o coração de esperança. Já dizia o velho provérbio sábio “depois da tempestade vem a bonança.”
Por cá vai-se unindo os pontos do caminho, traçando constelações da vida. Talvez refletir em água pura a verdadeira natureza de cada um de nós. Somos feitos de estrelas, dizem eles, eu cá digo que somos fabricados e movidos a sonhos. Não há muita ciência na formação deles, apenas paixão, uma mente que se agarra à motivação e uma pitada de insanidade.
No limiar da loucura, são os sonhos que me tornam mais sã. Perco-me neles para saber quem sou e para onde vou.
E quando a esperança falhar? Vou gritar bem alto ao vento, para espantar o medo.
Quando a mente quiser descer das nuvens para cair e encarar a dura realidade, vou fazer os pés correrem no asfalto, respirar fundo o sentido da vida e observar tudo à minha volta, como se fosse a primeira vez. Percorrer o mar infinito de opções e encontrar novas razões.
Se me cortarem as asas e disserem que não sou capaz, largar-lhes-ei um sorriso e dir-lhes-ei que só os medrosos ficam para trás.
O caminho não é fácil e no emaranhado de confusões, há uma batalha mental comigo mesma porque, em tempos de guerra, o único inimigo somos nós mesmos. Por isso vou despindo a mente e, com ela já nua, traçar-lhe objetivos e reflexos meus que me fazem bloquear a escuridão e avançar com toda a emoção.
Expresso-me em sonhos e eles fazem a expressão do que eu sou.




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