Não fosse eu do mundo, para ser
outra coisa qualquer. Talvez livre e leve como uma pena para voar por aí,
descobrir novos lugares e pessoas. Levar a vida a baloiçar na sua tranquilidade
e carregar a leveza das coisas simples da vida.
Ser uma pedra no sapato, para
incomodar quem mal se intenciona ou então para me colar à sua sola e andar em
todo o lado. Ser grão de areia para sentir o que é ser banhado pela água do
mar, ou um átomo para sentir o que é sentir-se minúsculo em tão gigante universo.
Pudesse eu ser algo tão
tempestuoso como o mar, que leva a sua vida em correntes rápidas e num mistério
perdido em cada esquina para se desvendar.
Escolhia ser sentimento puro e
bonito, quem sabe ser amor, para colocar os corações a dançar ou ser uma
gargalhada que se solta e nos põe por dentro a cantar. Adrenalina que bombeia o
coração e impulsiona a vida ou ser a alegria que se espalha em cores quentes
nas veias e pinta a tela branca que é o corpo.
Não pertencesse eu a este mundo
para que fosse o tempo, um tic toc frenético da rotina diária ou de uma vida
repleta de emoções. Ser o tempo para dar mais tempo a quem precisa, pará-lo
para eternizar certos momentos, perder a sua noção de vez em quando e jogar com
o coração.
A lua essa calhar-me-ia bem,
nunca sozinha e pelas estrelas que me acompanhariam para sempre também.
Seria o sol em seu esplendor,
para iluminar a vida e aquecer as almas que vagueiam pelas estradas e ruas
despidas. Seria o vento que cruza com o cabelo e acaricia de leve o rosto.
As marcas que tatuam os corpos,
seriam lembranças de histórias com lições.
Se pudesse seria todos os sonhos,
poesia escrita em paredes e em cadernos ou então palavras que não foram ditas,
mas que ficaram nas entrelinhas de sussurros.
Pudesse eu ser todas as coisas do
mundo e talvez muitas mais.
Mas qual seria a graça se não
fosse eu mesma, em total integridade e substância, que corre no seu tempo e
colhe por aí sorrisos e histórias?
Se pudesse ser alguma coisa neste
mundo seria eu, o nada e o tudo.