A carta que nunca te escrevi...

19:00

Há palavras que nunca são libertadas, ficam presas em teias e nós e ficam fechadas no vazio.
Nunca te disse, mas conhecer-te foi a melhor coisa que aconteceu. Cada pessoa que entra na minha vida torna-se um livro na minha estante mental. Gosto de ler pessoas, de desvendá-las, descobrir o que as atormenta ou que as faz vibrar ao ritmo da vida. Aprecio que cada pessoa carrega consigo uma lição.
Ainda que tenhas decidido ir embora, aprendi contigo que nem todos são para ficar, que a vida é efémera e que somos pequenos instantes inconstantes.
Contudo à noite ainda em penso em “se” e “porquês”. Revivo tantas vezes as memórias que por vezes penso que resido lá.
É na escuridão que a noite traz consigo, onde entro em divagações e interrogações. Se não tivéssemos escolhido caminhos diferentes como seria a nossa vida agora? Se tivesse dito ou feito algo de maneira diferente talvez não estivéssemos tão longe. Por que vivemos com tanto medo e não arriscámos mais? Agora não passamos de dois conhecidos desconhecidos.
Nunca te disse, mas importas-me e muito. Mais do que devia, mais do que era suposto.
Odeio importar-me, pois o coração bate mais depressa, a adrenalina suga-me a alma e torna-a cansada, pesada ao mundo que me rodeia. Detesto sentir que me torno impotente porque me importo demasiado.
Não sei ao certo que acerto devo fazer. Não sei o que fazer para sair desta espiral de sentimentos controversos que tornam os meus dias confusos e desordenados.
Rasgo o coração para que possa colar nos outros pedaços meus e desdobro a mente para tentar compreender o que vai na alma das pessoas.
Não sei se alguma vez percebeste, mas tenho um mau hábito que me pinta o coração. Tenha uma louca mania de anexar as pessoas a mim, de me entregar por inteiro e de acabar com o coração fragmentado.  Não o culpo, por amar… culpo-o por amar em demasia.
Nunca te disse, mas por vezes tento apagar-te da mente, dar mais valor à razão e não tanto ao teimoso coração. Tento imaginar-te numa tela branca, onde eventualmente acabarias por desaparecer, mas por espanto ou encanto acabas por ser a tela mais viva da minha mente. Consequentemente não te posso esquecer, porquanto prossigo contigo omitido, espreitando sempre na sombra, sempre num canto ou recanto.
Infelizmente traçaste os teus trilhos na minha pele e deixaste a tua marca. Ainda que por breves momentos eu te possa dissipar da memória, estarás lá em sussurros e brisas leves, a relembrar-me da tua presença interna.
Há um sinal de alerta constante no coração que me faz esperar ansiosamente por uma mensagem ou chamada tua. E é na espera que me perco.  Se ainda no fundo espero, é porque ainda me importas.
Nunca te disse e talvez nunca te chegue a dizer...

Carta- Rapariga em veneza



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2 comentários

  1. Os «e se» ou os «porquê?» acabam por ser uma constante, ainda para mais quando nos afeiçoamos a determinada pessoa - independentemente da relação que tivermos com ela. A vida segue um caminho e depois custa perceber a razão de alterar a rota.
    «Ainda que tenhas decidido ir embora, aprendi contigo que nem todos são para ficar, que a vida é efémera e que somos pequenos instantes inconstantes», subscrevo!

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  2. Que carta tão bonita! A vida continua, e saber aceitar com as perdas e o afastamento daqueles que nos eram tudo é muito difícil, mas não é impossível. Nem todos são apra ficar!
    Beijinho, Ana Rita*
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