Sentir-se bonito
18:29
Não é difícil ser-se bonito nos
dias de hoje. É difícil sentir-se bonito.
São 7 da manhã e há um
corpo pesado que se mantêm acorrentado à cama, ganhando a força necessária para
enfrentar mais um dia.
Olhas-te ao espelho e é no teu
olhar que vês as tuas imperfeições. Os círculos negros contam histórias e
pensamentos de uma noite sombria. Não gostas do que vês, então tornas-te num fugitivo
de ti mesmo e escondes os teus sentimentos e aquilo que és.
São 10 da manhã e estás indeciso entre qual das
máscaras deves colocar. Qual dos sorrisos deves jogar fora para que ninguém
note o quão desconfortável estás.
A ansiedade crescente, de uma
manhã de trabalho, onde conviver com os olhares das pessoas te tornam tão
mísero e insignificante. O coração bate-te rápido, e sentes o suor frio a
escorrer-te corpo abaixo.
Entras em conflito contigo mesmo,
se o que estarás a fazer é o mais indicado para ti. Na tua cabeça nunca é
suficiente e sentes-te como se pudesses desiludir todos à tua volta.
São 13 horas e chegou a
hora de maior convívio, mas onde te impões condições e restrições. Deixas-te de
sentir observado para observares os outros. Há sempre alguém mais alto, magro,
engraçado, bonito ou até mesmo aquilo que na tua cabeça achas ser quase
perfeito.
Alguém quer tirar uma foto
contigo, mas não consegues achar-te bem em nenhuma ou até mesmo recusas para
não te verem.
Sentes que és uma peça solta de
um puzzle tão completo.
Levas contigo o peso esmagador
que te contrai os músculos, a tentativa de ser algo que não és realmente.
São 18 horas, e chegas a
casa. A máscara que usaste durante o dia desapareceu, as marcas ressaltam à
vista, e olhas-te ao espelho pela milésima vez naquele dia.
Reparas nas curvas do teu corpo,
as saliências que te moldam. Abraças o corpo nu, onde as marcas contam histórias
e das histórias nasceram essas marcas.
Numa busca pela elucidação,
tentas ler-te e desvendar-te. O que poderá estar errado que ninguém gosta de
ti, ou se sente atraído?
São 23 horas e deitas-te
para fechar mais um capítulo. A insegurança ainda te abraça e lança sussurros aos pensamentos fazendo sentir-se
presente.
As horas passam e lanças gritos
mudos ao mundo. Ouves o silêncio da tempestade que vai dentro de ti. Largas as
lágrimas que seguraste o dia todo e decides esvaziar um pouco da dor acumulada.
Queres calar os pensamentos, mas são eles que te calam e sentes-te imponente.
Sentes aversão e não sabes já distinguir a loucura da razão.
Fechas os olhos e termina o dia.
Quando dás por ti, estás num ciclo vicioso.
Diariamente milhares de pessoas convivem numa
luta silenciosa com a insegurança. As marcas que te revestem o corpo, são
poesias cantadas. As curvas e contracurvas são os caminhos percorridos.
Olhamos para os outros da mesma
forma que outro alguém nos olha.
É difícil transformar a hipérbole
de defeitos que achamos que nos revestem para transformá-los em peças de museu
para apreciar.
A forma como o teu sorriso, deixa
o mundo muito mais colorido, ou os teus olhos brilham quando falas
apaixonadamente da vida, são pequenas coisas que te fazem bonito aos olhos dos
outros. Se fossemos todos perfeitos seriamos todos iguais. Qual seria a piada
disso?
Fecha os olhos e ama-te. O amor
que deres a ti mesmo, é o amor que receberás.
Antes de seres bonito, sente-te
com corpo e alma.
Não há defeito mais perfeito, se
não a capacidade de nos amarmos sem filtro.
5 comentários
A primeira frase é o ponto chave! Porque, de facto, estarmos bonitos não é assim tão complicado, o que é complexo é sentirmo-nos bonitos, é fazermos essa desconstrução de dentro para fora. E, claro, tudo isso tem repercussões na forma como nos vemos ao espelho.
ResponderEliminarExcelente reflexão!
Está incrível esta reflexão e todo o texto que a expõe!
ResponderEliminarMuito obrigada pelo teu comentário, minha querida :)
Um beijinho grande*
Que texto tão bonito! :)
ResponderEliminarQue texto tão puro e bonito! Gostei muito da tua escrita Rita e já estou a seguir o blog! Sem dúvida, que é essencial amarmo-nos tal como somos, sem filtros nem extras. Apenas o nosso corpo e a nossa alma. São únicos!
ResponderEliminarBeijinho, Ana Rita*
BLOG: https://hannamargherita.blogspot.com/ || INSTAGRAM: @rititipi || FACEBOOK: https://www.facebook.com/margheritablog/
Não é felizmente a minha realidade, mas gostei bastante do texto.
ResponderEliminarhttps://www.sonhamasrealiza.pt/