É a vida !

15:38

 Não sei há quantas horas ando a deambular em saltos momentâneos na tentativa furtiva de achar quem sou ou por onde vou. Não sei há quanto tempo estou neste labirinto cheio de memórias e pensamentos.

As correntes pesam na mente e enchem o corpo de dúvidas. Sei lá eu o que é certo ou errado? E se não arriscar nunca e o tempo me for roubado?

Achei-me em desejos tempestuosos e num turbilhão de emoções. Um dia desejamos ser adultos e numa fração de segundo a vida escorrega-nos pelos dedos e tudo o que só queríamos era voltar a ser crianças.

Somos inseridos numa bolha chamada sociedade que diz só querer o nosso bem, mas aí de nós ser melhor que eles. Tomam conta da nossa vida, e passamos a ser o pendura enquanto outro alguém conduz a enormes velocidades. Ouvimos em eco que temos de estudar para ser alguém, caso contrário, perdemo-nos nas sombras dos outros. Tens de ir para a universidade assim que acabas o secundário, tens de tirar o mestrado, arranjar casa, casar, ter filhos e trabalhar até que o sangue que corre nas tuas veias se torne em suor que escorre pelo rosto abaixo.

“É a vida! “dizem eles, os sábios entendidos que vivem na ignorância.

A verdade é que não és menos que ninguém por tomar um caminho diferente. Não tens de ir para a universidade, não tens de ter medo de dizer que não gostas do curso ou do trabalho. Não tens de ter medo de respirar, simplesmente.

São os cegos, surdos e mudos que dizem que neste mundo tens de ser diferente para fazer a diferença, mas isso assusta-os então fazem de ti um robô. Mas somos humanos e se a loucura for a razão, que a insanidade faça sempre parte dos nossos dias. Vivemos à base de sonhos e de ambições.

Doem-me os pés de tanto andar, acho que vou ficar por aqui descalça a sentir o asfalto do caminho ou tornar-me brisa leve e saborear o que me rodeia. Às vezes é preciso parar e colocar a vida mais direita.

Não sei quanto mais tempo tenho antes do relógio da vida me assaltar mais, mas enquanto o coração bater forte, a dança que seguirei é a da paixão e do amor.

“É a vida!” dizem eles. É a minha vida e a saída do labirinto está em mim.




amor

Ser Bonito

18:30

Corpo em que habito, corpo em que diariamente convivo. Sou eu, ou pelo menos acho que sou. Não sou feita de papel, mas procuro em mim palavras que façam sentido, que me digam de que matéria de estudo sou feita. Não sou interrogação ou exclamação, mas dentro de mim há um mar de questões certas e certezas questionáveis. Beijo a mente que me desperta todos os dias e em sussurros ligeiros vou dizendo-lhe que tudo está bem.
Uns dias acordo e corro em linha reta e outros tenho-me de pernas viradas para o ar. Uns dias sei para onde vou e outros fico-me só por existir e amar.
Em sufocos apertados, cá vou colhendo ilusões de que sou feita de tons de cinza. Na realidade trespassa-me e a todos… um espetro de luz única que nos torna únicos aos olhos de cada um.
Rasgo o coração em mil pedaços para entregar-me a conhecer as entranhas que me revestem e que vão dentro de mim. De ponta a ponta examinando, cada canto meu e tento achar as pontas soltas que contam um segredo seu. Percorro em olhares silenciosos os fragmentos que me constroem. Não sou um tetris onde as peças encaixam perfeitamente, mas sim um puzzle com peças perdidas. Observo com um detalhe curioso e cuidadoso o fim do cabelo rebelde que teima em querer dançar uma valsa com os outros cabelos. Levo as mãos ao rosto e sinto as marcas que carregam em si histórias vividas, contorno os lábios que soltam sorrisos contagiosos e que tem como fim terminar num sorriso de outro alguém.
As curvas e contracurvas conto-as em marés, fazem a minha forma e levo em conta a sua intensidade como ondas leves.
Olho o meu reflexo com a mente nua, com o olhar perdido de quem abraça a insegurança, diariamente, e de quem luta com a aceitação de si mesma.
Ser bonito. Não sei o que é isso, talvez questão de perspetiva, miragem de outro alguém. Mas tenho aprendido que ser bonito é simplesmente ser. Prefiro perder-me apaixonadamente por um coração simpático do que por um rosto sorridente. Sou mais de sentir intensamente almas e mentes do que corpos inertes e vazios.
Ser bonito é sentarmo-nos, connosco mesmos, aceitarmo-nos e julgarmo-nos. É começar e acabar o dia sendo a melhor versão de nós mesmos.
Na procura incansável de palavras que me descrevam, existe uma que nos descreve na sua singularidade: Humano.


Ser bonito é ser humano. É ser real.



Sonhos

19:00

Hoje acordei primeiro que o sol, que o toque ensurdecedor do despertador. Hoje acordei primeiro que o tempo e fui divagar em sonhos.
No coração louco que transborda amor e alegria, corre nas veias sonhos ainda em bruto. Não tem data de aparecimento, mas surgem de repente e sentimo-los a acariciar-nos os dedos, quase como se o pudéssemos agarrar.
Sonhos levo-os às cavalitas e empilham-se em montanhas. Não pesam nas costas, mas fazem sentir-se dentro do coração.
Prego sonhos à parede de onde esperam ser libertados das suas molduras.
Sonhos são mesmo assim, não têm forma e muito menos cor, no entanto às vezes sinto-lhes o sabor. Dão o ânimo que preciso e enchem o coração de esperança. Já dizia o velho provérbio sábio “depois da tempestade vem a bonança.”
Por cá vai-se unindo os pontos do caminho, traçando constelações da vida. Talvez refletir em água pura a verdadeira natureza de cada um de nós. Somos feitos de estrelas, dizem eles, eu cá digo que somos fabricados e movidos a sonhos. Não há muita ciência na formação deles, apenas paixão, uma mente que se agarra à motivação e uma pitada de insanidade.
No limiar da loucura, são os sonhos que me tornam mais sã. Perco-me neles para saber quem sou e para onde vou.
E quando a esperança falhar? Vou gritar bem alto ao vento, para espantar o medo.
Quando a mente quiser descer das nuvens para cair e encarar a dura realidade, vou fazer os pés correrem no asfalto, respirar fundo o sentido da vida e observar tudo à minha volta, como se fosse a primeira vez. Percorrer o mar infinito de opções e encontrar novas razões.
Se me cortarem as asas e disserem que não sou capaz, largar-lhes-ei um sorriso e dir-lhes-ei que só os medrosos ficam para trás.
O caminho não é fácil e no emaranhado de confusões, há uma batalha mental comigo mesma porque, em tempos de guerra, o único inimigo somos nós mesmos. Por isso vou despindo a mente e, com ela já nua, traçar-lhe objetivos e reflexos meus que me fazem bloquear a escuridão e avançar com toda a emoção.
Expresso-me em sonhos e eles fazem a expressão do que eu sou.




por-do-sol

textos

Não fosse eu do mundo

18:30


Não fosse eu do mundo, para ser outra coisa qualquer. Talvez livre e leve como uma pena para voar por aí, descobrir novos lugares e pessoas. Levar a vida a baloiçar na sua tranquilidade e carregar a leveza das coisas simples da vida.
Ser uma pedra no sapato, para incomodar quem mal se intenciona ou então para me colar à sua sola e andar em todo o lado. Ser grão de areia para sentir o que é ser banhado pela água do mar, ou um átomo para sentir o que é sentir-se minúsculo em tão gigante universo.
Pudesse eu ser algo tão tempestuoso como o mar, que leva a sua vida em correntes rápidas e num mistério perdido em cada esquina para se desvendar.
Escolhia ser sentimento puro e bonito, quem sabe ser amor, para colocar os corações a dançar ou ser uma gargalhada que se solta e nos põe por dentro a cantar. Adrenalina que bombeia o coração e impulsiona a vida ou ser a alegria que se espalha em cores quentes nas veias e pinta a tela branca que é o corpo.
Não pertencesse eu a este mundo para que fosse o tempo, um tic toc frenético da rotina diária ou de uma vida repleta de emoções. Ser o tempo para dar mais tempo a quem precisa, pará-lo para eternizar certos momentos, perder a sua noção de vez em quando e jogar com o coração.
A lua essa calhar-me-ia bem, nunca sozinha e pelas estrelas que me acompanhariam para sempre também.
Seria o sol em seu esplendor, para iluminar a vida e aquecer as almas que vagueiam pelas estradas e ruas despidas. Seria o vento que cruza com o cabelo e acaricia de leve o rosto.
As marcas que tatuam os corpos, seriam lembranças de histórias com lições.
Se pudesse seria todos os sonhos, poesia escrita em paredes e em cadernos ou então palavras que não foram ditas, mas que ficaram nas entrelinhas de sussurros.
Pudesse eu ser todas as coisas do mundo e talvez muitas mais.
Mas qual seria a graça se não fosse eu mesma, em total integridade e substância, que corre no seu tempo e colhe por aí sorrisos e histórias?
Se pudesse ser alguma coisa neste mundo seria eu, o nada e o tudo.


Praia ao por-do-sol

amor

Medo de Amar

18:25

Os medos que criamos, são obstáculos da nossa mente que nos fazem criar paredes de aço. Um dia perdes o tempo e ficas fora de compasso.
Encontramo-nos num limiar entre o abismo e a felicidade, onde tudo o que nos falta é força de vontade.
Vivemos em bolhas de dúvidas de sim ou não. Há dias que temos a certeza do mundo e outro que colocamos tudo em questão.
Existe por aí corações assustados, que vivem na sombra da insegurança. Vivem iludidos em expetativas, e em sonhos perdidos. Há por aí imensas almas feridas com medo de arriscar… de voltar a amar.
As pessoas têm receio de mandar uma mensagem a perguntar se está tudo bem, de convidar para um encontro ou para passar o tempo. Tem medo de desabafar, de se envolver, de querer intensamente, até mesmo de amar verdadeiramente.
Hoje em dia é mais fácil viver em negação do que arriscar com o coração. É mais fácil fingir ter coração de metal quando queremos alguém que nos abrace apertado e espante todo o mal.
A despreocupação tornou-se hábito de desistentes, mas hoje em dia há quem não veja o mundo ser de forma diferente.
As pessoas têm medo das partidas, porque temem a saudade. Não sabem lidar com distâncias ou com metades. Preferem viver no seu mundo interior, na sua bolha de solidão. É mais fácil ignorar a ausência que viver com ela em permanência.
Já ninguém sabe dizer que não, andam com fitas coladas na boca e com medo de se exprimir com emoção. Acham difícil dizer um amo-te, mas a facilidade com que dizem a palavra odeio-te é inigualável.
Ninguém sabe perder-se nas estrelas, por andar com a cabeça na lua. Corpos vagueiam perdidos em despidas ruas.
As mentes tornaram-se espaços em branco e as almas vazias. Ninguém sabe o que é viver realmente a vida.
De mil pedaços somos feitos, juntando as peças a todos os momentos. Todos temos feridas e marcas. Histórias que pesam e que vêm carregadas… de emoção.
Ninguém sabe o que quer, ou o que tem. Ninguém sabe se vai ou se se mantém.
O mundo vive de medos, mas não o sabe dizer. Tem medo de acordar ou de adormecer.

O mundo perdeu a essência no amor. Caminha sobre o medo e fecha-se na sua dor.


Rapariga sentada a ver o mar

textos

A carta que nunca te escrevi...

19:00

Há palavras que nunca são libertadas, ficam presas em teias e nós e ficam fechadas no vazio.
Nunca te disse, mas conhecer-te foi a melhor coisa que aconteceu. Cada pessoa que entra na minha vida torna-se um livro na minha estante mental. Gosto de ler pessoas, de desvendá-las, descobrir o que as atormenta ou que as faz vibrar ao ritmo da vida. Aprecio que cada pessoa carrega consigo uma lição.
Ainda que tenhas decidido ir embora, aprendi contigo que nem todos são para ficar, que a vida é efémera e que somos pequenos instantes inconstantes.
Contudo à noite ainda em penso em “se” e “porquês”. Revivo tantas vezes as memórias que por vezes penso que resido lá.
É na escuridão que a noite traz consigo, onde entro em divagações e interrogações. Se não tivéssemos escolhido caminhos diferentes como seria a nossa vida agora? Se tivesse dito ou feito algo de maneira diferente talvez não estivéssemos tão longe. Por que vivemos com tanto medo e não arriscámos mais? Agora não passamos de dois conhecidos desconhecidos.
Nunca te disse, mas importas-me e muito. Mais do que devia, mais do que era suposto.
Odeio importar-me, pois o coração bate mais depressa, a adrenalina suga-me a alma e torna-a cansada, pesada ao mundo que me rodeia. Detesto sentir que me torno impotente porque me importo demasiado.
Não sei ao certo que acerto devo fazer. Não sei o que fazer para sair desta espiral de sentimentos controversos que tornam os meus dias confusos e desordenados.
Rasgo o coração para que possa colar nos outros pedaços meus e desdobro a mente para tentar compreender o que vai na alma das pessoas.
Não sei se alguma vez percebeste, mas tenho um mau hábito que me pinta o coração. Tenha uma louca mania de anexar as pessoas a mim, de me entregar por inteiro e de acabar com o coração fragmentado.  Não o culpo, por amar… culpo-o por amar em demasia.
Nunca te disse, mas por vezes tento apagar-te da mente, dar mais valor à razão e não tanto ao teimoso coração. Tento imaginar-te numa tela branca, onde eventualmente acabarias por desaparecer, mas por espanto ou encanto acabas por ser a tela mais viva da minha mente. Consequentemente não te posso esquecer, porquanto prossigo contigo omitido, espreitando sempre na sombra, sempre num canto ou recanto.
Infelizmente traçaste os teus trilhos na minha pele e deixaste a tua marca. Ainda que por breves momentos eu te possa dissipar da memória, estarás lá em sussurros e brisas leves, a relembrar-me da tua presença interna.
Há um sinal de alerta constante no coração que me faz esperar ansiosamente por uma mensagem ou chamada tua. E é na espera que me perco.  Se ainda no fundo espero, é porque ainda me importas.
Nunca te disse e talvez nunca te chegue a dizer...

Carta- Rapariga em veneza



Sentir-se bonito

18:29

Não é difícil ser-se bonito nos dias de hoje. É difícil sentir-se bonito.
São 7 da manhã e há um corpo pesado que se mantêm acorrentado à cama, ganhando a força necessária para enfrentar mais um dia.
Olhas-te ao espelho e é no teu olhar que vês as tuas imperfeições. Os círculos negros contam histórias e pensamentos de uma noite sombria. Não gostas do que vês, então tornas-te num fugitivo de ti mesmo e escondes os teus sentimentos e aquilo que és.
São 10 da manhã e estás indeciso entre qual das máscaras deves colocar. Qual dos sorrisos deves jogar fora para que ninguém note o quão desconfortável estás.
A ansiedade crescente, de uma manhã de trabalho, onde conviver com os olhares das pessoas te tornam tão mísero e insignificante. O coração bate-te rápido, e sentes o suor frio a escorrer-te corpo abaixo.
Entras em conflito contigo mesmo, se o que estarás a fazer é o mais indicado para ti. Na tua cabeça nunca é suficiente e sentes-te como se pudesses desiludir todos à tua volta.
São 13 horas e chegou a hora de maior convívio, mas onde te impões condições e restrições. Deixas-te de sentir observado para observares os outros. Há sempre alguém mais alto, magro, engraçado, bonito ou até mesmo aquilo que na tua cabeça achas ser quase perfeito.
Alguém quer tirar uma foto contigo, mas não consegues achar-te bem em nenhuma ou até mesmo recusas para não te verem.
Sentes que és uma peça solta de um puzzle tão completo.
Levas contigo o peso esmagador que te contrai os músculos, a tentativa de ser algo que não és realmente.
São 18 horas, e chegas a casa. A máscara que usaste durante o dia desapareceu, as marcas ressaltam à vista, e olhas-te ao espelho pela milésima vez naquele dia.
Reparas nas curvas do teu corpo, as saliências que te moldam. Abraças o corpo nu, onde as marcas contam histórias e das histórias nasceram essas marcas.
Numa busca pela elucidação, tentas ler-te e desvendar-te. O que poderá estar errado que ninguém gosta de ti, ou se sente atraído?
São 23 horas e deitas-te para fechar mais um capítulo. A insegurança ainda te abraça e lança  sussurros aos pensamentos fazendo sentir-se presente.
As horas passam e lanças gritos mudos ao mundo. Ouves o silêncio da tempestade que vai dentro de ti. Largas as lágrimas que seguraste o dia todo e decides esvaziar um pouco da dor acumulada. Queres calar os pensamentos, mas são eles que te calam e sentes-te imponente. Sentes aversão e não sabes já distinguir a loucura da razão.
Fechas os olhos e termina o dia. Quando dás por ti, estás num ciclo vicioso.
Diariamente milhares de pessoas convivem numa luta silenciosa com a insegurança. As marcas que te revestem o corpo, são poesias cantadas. As curvas e contracurvas são os caminhos percorridos.
Olhamos para os outros da mesma forma que outro alguém nos olha.
É difícil transformar a hipérbole de defeitos que achamos que nos revestem para transformá-los em peças de museu para apreciar.
A forma como o teu sorriso, deixa o mundo muito mais colorido, ou os teus olhos brilham quando falas apaixonadamente da vida, são pequenas coisas que te fazem bonito aos olhos dos outros. Se fossemos todos perfeitos seriamos todos iguais. Qual seria a piada disso?
Fecha os olhos e ama-te. O amor que deres a ti mesmo, é o amor que receberás.
Antes de seres bonito, sente-te com corpo e alma.
Não há defeito mais perfeito, se não a capacidade de nos amarmos sem filtro.



Rapariga bonita a sorrir


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